Elucidário de um Método Aberto. Apontamentos sobre a Investigação de um Projeto de Arquitetura

Autoria: Leandro Martins Arez
Orientação: Paulo David Abreu Andrade
Co-Orientador: Daniela Arnaut Godinho Antunes
Instituto Superior Técnico
Memória descritiva
Na confluência de uma linha de água secundária com a Ribeira João Gomes, Funchal, encontramos um bairro de construção informal, de população envelhecida e infraestruturação precária. Este bairro, posicionado num balcão debruçado sobre o grande vale, toca-o apenas em dois ponto, duas escadas, entre as quais jaz uma encosta ferida, bruscamente excisada para responder às impreteríveis necessidades de berma de estrada. Identificando estas problemáticas, partiu-se para a procura de uma resposta a dois aspectos distintos mas fundamentais no projeto: repôr a matéria violentamente roubada à encosta, re-aproximando o limite da sua conformação anterior; e conciliar o cruzar do fluxo longitudinal do vale com o perpendicular do bairro. Para tal, é proposto um duplo programa de Escola de Música e Mobilidade Assistida, devolvendo o bairro ao vale, e entendendo a sua relação como recíproca, tão ancestral quanto axiomática.
Os métodos compositivos do jazz pressupõem uma confluência entre os momentos de conceção e interpretação musicais, concentrados na condição do fazer, ou improvisar. A composição passa a ser pensada como aberta, incompleta, a ser infinitamente re-concluída a cada interpretação. Definir o programa enquanto escola de música parece uma análise precisa, mas redutora, de um edifício composto por uma grande sala e múltiplas salas mais pequenas, associado a um percurso público de mobilidade urbana, onde uma cobertura ampla é local de confluência com um eixo de mobilidade assistida sobre a forma de escadas rolantes. É uma definição apropriada para o programa proposto, mas seria-o para tantos outros também, e é no estudo da música que se anula o programa musical no projecto: revelando que pensar um programa em aberto, análogo a um standard sobre o qual se espera que se improvise, possibilita uma especulação mais credível da apropriação de arquitectura pelas pessoas que a utilizam, habitam e vivem.