Habitar a Gruta. Um Mosteiro de Clausura na Serra da Arrábida

Autoria: Pasqualino Grosso

Orientação: Diogo Castro Guimarães

Co-Orientador:

Universidade Autónoma de Lisboa

Menção honrosa

Memória descritiva

Grutas, eremitérios, cenobes, conventos ou mosteiros, lugares onde visões, aparições, enclaves espirituais se tornaram realidade. Lugares onde a ideia é aumentar o misticismo e a profundidade ascética ou libertária das suas práticas para propiciar a união com a divindade. A caverna ou ermida da montanha, o ermitão e a solidão são a essência da vida carmelita, o ideal contemplativo. O projecto de um mosteiro – para a comunidade de freiras Carmelitas Descalças – na Arrábida deriva precisamente destas figuras, e da imagem e ideais eremitas, sagrados para esta ordem.

O mosteiro está localizado na paisagem da Arrábida, sobre um penhasco com vista para o oceano. A intenção é criar uma estreita ligação com a paisagem, a sua natureza selvagem e a sua história. O convento assume o aspecto de um antigo eremitério, uma cidade dispersa e de difícil acesso, agora parte integrante do território. Encaixa-se perfeitamente na topografia da paisagem e cria continuidade com a natureza envolvente. A ideia do desenho aspira ao simbolismo de uma caverna sagrada, a metáfora de um lugar dado pela rocha, escavada na montanha e a primeira casa do homem. Na tipologia do deserto carmelita, a solidão é reforçada por eremitérios – neste caso as grutas naturais da Arrábida – que, longe do mosteiro e espalhados no espaço fechado, encorajam o eremita a ter um período mais ou menos longo de solidão individual. A caverna adquire assim um significado profundo, não só como sugestão de um ponto de vista teórico, mas torna-se uma parte integrante do projecto.  Os eremitas cristãos viviam frequentemente em lugares isolados, tais como cavernas naturais, e alguns deles rodeavam-se de tantos discípulos que já não viviam em solidão, criando verdadeiras comunidades. Esta é a origem do mosteiro da Arrábida; as grutas naturais da montanha adquirem neste sentido um valor sagrado, e tornam-se lugares adequados para entrar em simbiose com a natureza selvagem do deserto e para procurar um contacto divino. No centro, o mosteiro – cujos espaços são esculpidos na rocha – nasce da materialização do seu limite, gerado pelo território circundante e pela topografia. A natureza do projecto é estereotómica.