Arquitetura e Memória Proposta de reabilitação das moagens de Mértola

Autoria: Afonso Cabral

Orientação: João Paulo Providência

Universidade de Coimbra - Faculdade de Ciências e Tecnologia | Mestrado integrado em Arquitectura

Menção honrosa

Memória descritiva

Nos anos 30 o Estado Novo empreende uma política de autonomia alimentar. A produção de trigo, organizada como campanha de plantação em “terrenos improdutivos”, alterou profundamente a paisagem alentejana. O território de Mértola, como o de outras áreas da região do Alentejo, foi inserido no programa, tendo sido construídos celeiros de armazenamento de cereal e uma fábrica de moagem. Estas construções, localizadas na margem esquerda do rio Guadiana, permanecem hoje sem qualquer função e o seu valor, enquanto marco físico incontornável da paisagem de Mértola, torna urgente o seu reaproveitamento. Segundo esta premissa o presente trabalho centra-se numa intervenção arquitetónica para as margens do rio e, especificamente, na reabilitação do conjunto industrial das moagens.

O programa define-se como a nova sede para o Campo Arqueológico de Mértola, tendo em conta as dificuldades do edifício atual em suportar todo o programa necessário para desenvolver os seus objetivos de investigação, conservação e restauro do património arqueológico da vila. Propõe-se então, a sua transposição para o interior das estruturas abandonadas das moagens, explorando o potencial cultural, científico e urbano que a sua atribuição ao C.A.M. poderá permitir.

O peso histórico da imponente estrutura física desafia as possibilidades de uso contemporâneo; as diferentes áreas e volumes adquirem vocações e potencialidades específicas, desde uma grande área de exposição e arquivo visitável a uma residência de investigadores, passando por programas urbanos de biblioteca, auditório e cafetaria.

Culminando no detalhe e na pormenorização da proposta, esta investigação foi levada desde a intervenção no território até ao rigoroso detalhe construtivo. A sua globalidade cumpre os propósitos do enunciado e remete-a para este plano abrangente – mas não menos incisivo – no qual não conseguimos dissociar nenhuma escala de outra, mais aproximada ou territorial.