CONJUNTO HABITACIONAL DO SEGUNDO TORRÃO

Autoria: FILIPE PRUDÊNCIO

Orientação: PEDRO LUZ PINTO

ISCTE - INSTITUTO UNIVERSITÁRIO

Finalista

Memória descritiva

A etimologia da palavra “Trafaria” refere-se à palavra “tarrafa”, que significa em rede de pesca com o vocábulo “arena” de areia. A evolução fonética, com o passar dos tempos, acabou por substituir “Trafarena” por Trafaria. A sua origem, portanto, esteve num pequeno aglomerado de pescadores que se estabeleceram neste território por razões de atividades económicas relacionadas com a pesca.

É neste local que surgem, nos anos 60/70, dois assentamentos informais de dimensões significativas sobre solo dunar, conhecidos como 1º e 2º Torrão. Dois bairros marcados pelo não ordenamento, sem infraestruturas condignas e em condições insuficientes.

O Projeto do conjunto habitacional proposto partiu da intenção de realojar parte da população que vive atualmente no 2º Torrão. Um bairro que tem vindo a sofrer, nas últimas décadas, alterações que descaracterizaram a sua génese, alteraram as suas principais qualidades urbanas e tipológicas, e massificaram a construção de modo anárquico, sem aparente benefício habitacional ou social.

Neste sentido, procurou-se, com esta proposta uma relação muito equilibrada entre a escala e a volumetria, e o espaço público e natural. Consequentemente, a distribuição, no terreno, dos diferentes edifícios de habitação, foi conduzida no sentido de, através deles, se definirem espaços como instrumentos de distribuição, convívio, repouso e recreio. Desta forma, foram criados pequenos locais de interesse generalizado, modelando pequenos escalões de meia dezena de famílias francamente vinculados a um amplo espaço central.

Nas habitações, procurou-se reduzir ao mínimo desejável as circulações, aumentar o número de fogos, concentrar os logradouros e disciplinar a relação das alturas de construção, visando simultaneamente o menor movimento de terras necessário a implantações e acessos, através da construção em palafitas. A partir da modulação encontrada, as várias habitações, com sentido protetor, formam assim um pátio. Um pátio comum, que não procura ser apenas um lugar de troca de coisas, mas sim de troca de ideias. Um convite para que as pessoas se reúnam.

Em termos de caracterização material, o projeto procurou respeitar ao máximo as técnicas construtivas comummente utilizadas para a madeira introduzindo, no entanto, uma linguagem de intervenção marcadamente contemporânea.

Havia uma intenção de construir aquilo que faz a vida de todos os seres: o quotidiano, esses momentos e essas horas passados dia após dia, desde a infância até à morte, em salas, em espaços quadrangulares e simples que podem ser emocionantes, e que constituem, de facto, o teatro primordial em que a nossa sensibilidade evolui, desde o momento em que abrimos os olhos para a vida1