DA GÉNESE DO LUGAR AO PROJECTO. Uma biblioteca para Pispala

Autoria: David Monteiro

Orientação: Helder Casal-Ribeiro

Universidade do Porto - Faculdade de Arquitectura

Vencedor

Memória descritiva

O lugar e a paisagem confundem-se incessantemente. Ambos são parte activa de uma relação de simbiose, um não se pode desmembrar do outro, uma vez que os dois estão associados por imagens e por sentimentos que transportam quem os habita para um contexto singular, em que o lugar faz parte da paisagem e em que a paisagem não seria a mesma sem aquele lugar.

Situada entre dois dos maiores lagos da Finlândia central, a área de Pispala assume-se como um dos mais interessantes lugares da cidade de Tampere pela exclusividade da sua condição, que faz entrever dois lagos distintos, separados topograficamente por uma colina, o que constitui um acontecimento único no panorama da paisagem finlandesa.

Utilizou-se o programa como pretexto para um tema de projecto, definindo-se que a proposta deveria acolher e consequentemente ser concebida numa constante relação entre este e a envolvente. Assumiu-se que a definição comum de biblioteca, que habita os nossos subconscientes, deveria ser transcendida de forma a ser criada uma nova tensão, uma nova intensidade que transformasse o edifício em algo distinto.

Existe uma consciente natureza contemplativa na proposta, associada à disposição programática e volumétrica do edifício, que é justificada pelo desenho dos seus espaços interiores. A importância da concepção sensorial nos espaços do projecto, permite que a envolvente seja entendida como o prolongamento destes, enquadrando no íntimo dos seus negativos, diferentes perspectivas sobre e sob Pispala. Estabelece-se assim, um percurso que se orienta sobre a paisagem e que se prolonga desde o ponto de entrada, à cota baixa e que se estende até ao miradouro que remata o volume da biblioteca.

De forma a evidenciar o desígnio do projecto, revela-se essencial perceber em que momento a escala, a configuração do volume proposto, a sua textura e a luz, dialogam com intuito de gerarem o espaço. Estes temas procuram um sentido de construção na proposta, uma leitura das características de uma determinada materialidade enquanto parte integrante do desenho do espaço. Luz, Sombra, Cheio e Vazio, são temas recorrentes quando se procura esclarecer a volumetria proposta e a forma como os espaços que a compõe vão surgindo  ao longo do percurso. Desta forma, o significado dos materiais e da construção da própria narrativa que propomos encontra nos espaços desenhados a tradução clara de um ambiente onde se discutem ideias de arquitectura e se testam atmosferas espaciais.

A criação deste ambiente singular em toda a proposta, define-se então através da paisagem, o esteio que orienta o percurso, os espaços, sendo que é esta por fim, o remate do edifício em cada um dos seus diferentes pisos.