Da Janela para o Vale. Outra Dimensão do Vale de Alcântara – Cultivar na Cidade, Habitar a Pedra

Autoria: Alexandre Sequeira

Orientação: Nuno Mateus

Universidade de Lisboa - Faculdade de Arquitectura | Mestrado integrado em Arquitectura

Finalista

Memória descritiva

Durante o século XX, o vale de Alcântara foi tomado por uma infraestruturação desmedida, produzindo um grave impacto urbano no território, sendo hoje dominado por vias de circulação automóvel e vazios urbanos decorrentes da sua má gestão.

Face a esta realidade, o presente exercício visa a criação de uma imagem do vale desagregada das marcas infraestruturais, bem como a definição de valores de relação histórica, paisagística e ambiental na abordagem a um território urbano sensível deste ponto de vista.

A análise do sistema natural do vale deu suporte à reinterpretação de modelos urbanos pré-industriais para o desenho de um eixo agrícola e de lazer, onde se confrontaram premissas para a intervenção humana no natural, bem como para a integração de espaços verdes na cidade, alicerçadas no pensamento crítico de João Nunes e Ribeiro Telles, respetivamente.

A construção desta ideia para o vale encontra na matéria uma celebração da memória na sua forma mais evidente, fruto das pedreiras que ali existiram e da forte presença do aqueduto. A escolha da pedra apoiou-se também no estudo da construção em pedra maciça quanto à sua sustentabilidade ecológica no contexto atual.

O potencial do novo eixo verde estende-se à componente urbana, através da consolidação das frentes envolventes ao vale e do desenvolvimento de novos bairros. Na procura de uma ligação destes conjuntos com o vale, foi fulcral a investigação do campo da proxémia (T.Hall), entendendo que ao reger o desenho urbano e arquitetónico por premissas desta natureza, estão estabelecidas melhores condições para a criação de um sentido de territorialidade.

Ao associar esta ideia à condição topográfica do vale, surge o Raumplan (Loos) como conceito fundamental para o desenho das várias escalas. Desde a complexa relação entre os vários níveis no interior da casa, o conceito estende-se para todos os níveis do vale, aliando-se ao estudo dos bairros envolventes e do modelo de habitação Low-rise High-density para efetivar a relação do habitante com o lugar.

É nesta transição entre escalas que se encontra o potencial de viver no vale, culminando no desenho da janela, como quem coloca um quadro na parede e condensa todo o projeto no momento de olhar “da janela para o vale”.