Memória descritiva

“Apenas 2% da superfície da Terra é ocupada por assentamentos urbanos, onde vive 50% da população mundial; o que acontece com os restantes 98%”? Com esta estatística alarmante, o arquiteto holandês Rem Koolhaas, fundador do OMA e do think tank AMO, abriu as portas a um novo campo de investigação no qual a equipa conduziu numerosas pesquisas com resultados surpreendentes e que foram apresentados na exposição intitulada Countryside, the Future? no 2020, no Museu Guggenheim em Nova Iorque. O Campo, este novo cenário e âmbito de investigação, sempre desempenhou um papel marginal no panorama arquitetónico dos últimos séculos, especialmente focado no desenvolvimento das cidades.

A dissertação examina uma área de estudo específica, a Região de Marche, na Itália Central, caracterizada por uma forte tradição agrícola, representando um bom exemplo para expressar o potencial do património rural na coalescência do edificado difuso que, graças às novas tecnologias e consciência global, poderá encontrar uma oportunidade de renascimento, intercetando os novos fluxos económicos ditados principalmente pela indústria do turismo. Através da conceção e organização de novos espaços numa quinta local, o objetivo é combinar uma nova sinergia entre a produção agrícola e a hospitalidade na esfera rural, o que, explorando uma nova multifuncionalidade ligada aos aspetos produtivos, poderá representar uma resposta integrada para enfrentar os desafios lançados pela contemporaneidade. A arquitetura com a sua transversalidade entre disciplinas, representa, portanto, um instrumento de síntese válido para ler e interpretar a complexidade que caracteriza este lugar sujeito a transformações contínuas. O projeto tenta, graças ao seu poder evocativo, traçar um novo curso para a quinta, trazendo assim de volta uma ordem de medida e proporções que poderiam desencadear dinâmicas potenciais dentro do complexo rural, estabelecendo uma forte relação de mediação entre a paisagem natural e a realidade urbana.