A tradição da espessura. O uso de terra compactada na construção de uma linguagem contemporânea

Autoria: Ana Raquel Martins Torres

Orientação: Marco Ginoulhiac

Universidade do Porto - Faculdade de Arquitectura | Mestrado integrado em Arquitectura

Finalista

Memória descritiva

O projeto explora a terra enquanto matéria protagonista na construção de uma semântica arquitetónica. A definição comum do programa de uma adega de armazenamento e alojamento para visitantes tornou-se premissa para o desenvolvimento do tema do projeto, fomentada por sinergias geradoras de uma nova intensidade que distingue o edifício e o aproxima do Homem, (re)integrando-o no eterno ciclo da natureza.

O valor paisagístico da encosta da Quinta de Roriz, em Ervedosa do Douro, enquanto cenário de intervenção, converte-se em matéria-instrumento. A utilização do solo do lugar, materializa um objeto robusto, formalmente asséptico e deliberadamente anónimo, que emana espontaneidade na paisagem como uma ruína estruturalmente ligada à sua gravidade. A tectónica refletida na construção das paredes de taipa suscita experiências corporais, musculares e hápticas que condensam significados. Estes traduzem um elo entre a natureza e o Homem partindo do princípio de que esta simbiose se transmuta constantemente e se renova por meio da cultura, tornando audível a ressonância de uma linguagem que integra o edifício num continuum da imagem afetiva e instala um procedimento analógico com as construções vernáculas.

No projeto, o encontro e dissolução espacial do corpo com as formas puras que expressam essencialidade, são a tradução clara de um ambiente onde se constroem visões idealizadas de arquitetura e se testam atmosferas espaciais que comunicam com o indivíduo apelando a todos os sentidos no espaço.

O projeto articula dois volumes -a adega e o alojamento. Um átrio, surge como dispositivo que medeia a esfera pública e privada. Na adega, a composição espacial traduz uma forte tensão emotiva do movimento do indivíduo enquanto este alcança os principais momentos do programa -sala de degustação, sala dos barris e o restaurante. Nos espaços de alojamento eleva-se a sua natureza contemplativa determinada pela relação que perpetuam com a envolvente como um seu prolongamento. Cada quarto apresenta-se encerrado sobre si mesmo entre paredes profundas e enquadra uma perspetiva sobre o Douro que concomitantemente desperta o pensamento sobre a solidão essencial e lugares de memória.

O edifício “devolvido à Terra” manifesta a holística da sua natureza, como meio de aproximação ao terreno natural que substituiu, integrando-o. Celebra o mundo rural como lugar de naturalidade não contaminada.