Ad aeternum. Um ensaio do primitivo na procura da razão em arquitectura

Autoria: João Pedro Ribeiro

Orientação: Paulo David

Universidade de Lisboa - Instituto Superior Técnico | Mestrado integrado em Arquitectura

Finalista

Memória descritiva

O Cemitério de Almada detém uma localização privilegiada enquanto um dos mais enigmáticos miradouros sobre a cidade de Lisboa. Apesar do seu carácter absorto na cidade, possui qualidades geográficas e morfológicas que perpetuam a sua ligação com o rio e com a metrópole. Aliado à atmosfera de quietude, melancolia e reminiscência do Cais do Ginjal e, focalizando o estudo na área altamente devoluta de Olho de Boi, propõe-se uma intervenção que tem génese no estabelecimento fúnebre, estendendo o seu alcance para Norte, defrontado a escarpa e a arriba, beneficiando e complementando o caráter de procissão inerente ao desenho do cemitério. Chega-se, assim, ao encontro da margem, uma relação com o rio onde é palpável o peso da herança e memória deste território portuário.

A proposta tem a intenção de gerar uma autêntica coligação entre Almada e o Ginjal ou, por outras palavras, da cota alta à cota baixa, por recurso a um programa com a capacidade de suportar tal argumento arquitetónico e urbano, o da necrópole. Assim, propõe-se um complemento programático às necessidades atuais do cemitério, um crematório e um columbário.

Pretende-se enfatizar as relações de interdependência e complementaridade entre ambos os programas, explorando em que medida estes se podem unir pela arquitetura. Assim, a Estrutura e a Luz tornam-se nos elementos de síntese e de congregação da ideia. Por um lado, a Estrutura, pela procura da multiplicidade na arquitetura, alberga toda e qualquer função do inerente ao programa, gerando os seus espaços e assegurando o seu funcionamento e, por outro, a Luz surge como o elemento de estímulo e descoberta do espaço pela escala, um espaço criado inteiramente pela procura da razão.

Assim, tirando partido das circunstâncias atuais verdadeiramente fenomenológicas e metafísicas do Ginjal, o edifício pretende tornar-se um trajeto solene ou um simples local de homenagem, enquadrado pelo que sempre permanece, a memória e a matéria.