Campo como Infraestrutura. O percurso e drenagem da água no desenho do espaço público

Autoria: Ana Raquel Batista Pereira

Orientação: Patrícia Maria Pontes Serra Mendes Barbas

ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa | Mestrado integrado em Arquitectura

Vencedor

Memória descritiva

No vale de Alcântara, terra fértil de vocação produtiva e veraneio, a água sempre foi o elemento de ligação das diversas tipologias de espaço existentes: produtiva, industrial, lúdica e conventual. Contudo, a impermeabilização do solo e artificialização do percurso da água complexificaram os sistemas hidráulico e hídrico, tornando-o incapaz de responder aos fenómenos de chuvas torrenciais cada vez mais frequentes.

A cidade de Lisboa e, concretamente, o Vale de Alcântara e áreas circundantes conjugam os episódios torrenciais com o efeito direto da maré, sobrecarregando uma infraestrutura de drenagem débil e insuficiente.

O Alto de Santo Amaro tem as elevadas pendentes impermeabilizados que muito sobrecarregam a Rua da Junqueira e, consequentemente, o vale de Alcântara. Em circunstâncias extremas dá-se um movimento inverso ao natural nas infraestruturas: a água entra no sistema e a pressão provoca descargas diretas dos caudais poluídos nos meios recetores.

O projeto propõe uma alteração dos sistemas de esgotos unitários para separativos possibilitando uma diminuição da carga nas infraestruturas a jusante. A separação dos esgotos permite o aproveitamento da água das chuvas para a criação de um percurso lúdico-produtivo ao longo do qual se retarda, armazena, filtra, desinfeta e irriga a água para as extensas áreas permeáveis do Alto de Santo Amaro e programas complementares. Inclui-se, assim, o ciclo da água no desenho da cidade.

Os banhos públicos, a rótula do percurso infraestrutural, aproveitam a permanência tipológica da Quinta do Monte do Carmo, tanto a tipologia edificada como a sua condição de ruína e as subunidades de paisagem. Esta charneira insere-se no sistema infraestrutural proposto e parte dos seus tanques são por este abastecidos, após filtração e desinfeção, e também os jardins comestíveis regados. Explora-se esta tipologia na tentativa de semear, cuidar e colher a felicidade na cidade, estreitando a relação entre paisagem, infraestrutura, Homem, a sua mão e boca.

A cidade de Lisboa nasceu e cresceu da água e é nosso dever lembrarmo-nos dela, aproveitar a sua passagem e elogiar a sua presença. Esta proposta busca esse elogio através do aproveitamento da água das chuvas, enquanto promove um equilíbrio dos sistemas ecológicos e diminuição da sobrecarga nas infraestruturas existentes.