CONSTRUIR UM TEMPLO

Autoria: João Ortigão Ramos

Orientação: Joaquim Moreno

Universidade Autónoma de Lisboa - Departamento de Arquitetura

Menção honrosa

Memória descritiva

“Quando Salomão tinha doze anos, subiu ao terraço do palácio do seu pai e meditou sobre os lugares altos onde era costume honrar a Deus. (…) Foi tão célebre que ainda hoje o tomamos como modelo, mas sem chegar ao âmago dessa ideia de génio e de vontade onde a gratidão se confunde com o amor mais elevado. Um templo é uma prova de gratidão. (…) Mais tarde foi saqueado pelos invasores caldeus e destruído. Mas todos os templos são erguidos à bondade de Deus, que Salomão soube o que era e que mais ninguém sabe, de tal modo as coisas da terra operam em nós contradições.”1

1BESSA-LUÍS, Agustina. O Templo. 1998.

Desde o início das primeiras civilizações que o homem sente necessidade de ter um espaço dedicado às questões sagradas. Os templos desempenham, desde sempre, um papel fundamental nas sociedades e a forma como comunicam é reveladora da própria cultura do lugar onde se inserem.

O MOUCHÃO DO LOMBO DO TEJO é uma ilha situada no estuário do Rio Tejo, entre Alverca do Ribatejo e a Lezíria Grande de Vila Franca de Xira e a norte da área conhecida como Mar-da-Palha. O mouchão abrange uma área de aproximadamente 600 hectares de lezíria, isolados das marés e cheias por um sistema de taludes.
Sendo a desativação da atividade agrícola uma condição prévia do projeto, a constante manutenção do sistema de taludes e valas assim como a existência dos edifícios de apoio deixam de ser pertinentes.

Partindo de valores aproximados conseguem-se prever três períodos de transformação do mouchão ao longo dos tempos. Devido à erosão produzida pelo vento e chuva, as valas deixarão de existir dando lugar a uma topografia que pouco a pouco se revelará mais acidentada, dando lugar a pequenos charcos e zonas de acumulação de sedimentos. Pela ação das marés, o talude acabará por ceder nas zonas mais frágeis e a água inundará as áreas de menor cota.

O EDIFÍCIO situa-se na zona de maior cota a norte do mouchão. Deste modo, distancia-se do nível da água do rio e alheia-se aos alagamentos temporários das zonas de sapal e caniçal. Ao mesmo tempo utiliza as infraestruturas pré-existentes dos edifícios de apoio agrícola. Devido à sua condição de isolamento e pelo difícil acesso ao mouchão, torna-se evidente a possibilidade de alargar o período de permanência.
O templo é composto por um espaço central, em torno do qual se anexam: um refeitório, um dormitório e um balneário. Por essa mesma ordem, as divisões possuem 168m2, 96m2, 48m2 e 36m2. As dimensões dos espaços anexos partem da divisão da sala principal em três retângulos de igual proporção mas com áreas diferentes.

O edifício é inteiramente construído em betão armado. Enquanto no exterior, o betão é lavado de modo a não revelar as marcas da cofragem, no interior pretende-se que o processo de cofragem seja evidente: as paredes são betonadas sobre painéis metálicos lisos e os tetos sobre tábuas de madeira. O pavimento é feito em lajetas pré-fabricadas e a cofragem usada é semelhante à do teto.
Todos os restantes elementos como janelas, portas, escadas interiores e mobiliário, são construídos em madeira de sucupira preta. O sistema de eletricidade e água é deixado à vista em tubos de cobre.