Deixar ou perder: soluções para o conflito entre a natureza e os usos humanos num sistema de ilhas barreira. Proposta de intervenção para a ilha de Faro

Autoria: Ricardo Jorge Gonçalves Neto

Orientação: Ana Paula Pinto Gomes da Silva

Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências e Tecnologia | Mestrado (2ºciclo) em Arquitectura Paisagista

Finalista

Memória descritiva

A Praia de Faro situa-se na península de Ancão, na zona ocidental do sistema de ilhas barreira da Ria Formosa, a sul de Portugal. Esta importante área natural está integrada na rede Natura 2000, sendo, actualmente, um dos locais mais vulneráveis da Ria Formosa.

O sistema possui uma dinâmica morfológica intensa que depende das correntes de maré e da agitação marítima. O recuo da linha costeira é muito elevado em algumas zonas das ilhas, compensado pela acumulação de depósitos sedimentares noutras zonas. O interior da ria possui habitats naturais importantes é é um local de nidificação para a avifauna.

Tradicionalmente a praia estaria ligada a actividades de pesca. As primeiras povoações, associadas a casas de pescadores, localizavam-se nas áreas mais protegidas, junto à ria. No entanto, a partir de meados do século XX, após a construção da ponte, a intensificação da actividade turística levou ao aumento progressivo das construções na crista da duna. Estas construções, de origem humana, aumentam a vulnerabilidade às perturbações naturais, intensificadas pelas alterações climáticas. A beleza da paisagem é uma atracção, mas a excessiva pressão humana levará inevitavelmente à ruptura do sistema e ao seu desaparecimento.

Este trabalho apresenta uma reflexão sobre as soluções para este conflito, cuja estratégia apresentada discute a incompatibilidade entre estruturas rígidas e permanentes e um sistema natural, dinâmico e complexo. Seguindo a tendência actual de progressão da ilha para Leste, propõe-se a substituição faseada dos edifícios existentes por novas estruturas móveis que apoiarão as actividades recreativas. Estas construções serão ligadas por uma rede de passadiços que permitirá a circulação dos utilizadores. São ainda propostas soluções para reduzir o acesso de automóveis, para a remoção de construções instaladas na crista da duna, que maximizam a ocorrência de sobrecargas e para a reconstrução de uma duna contínua e robusta.

[1] Le monde du silence é um documentário realizado por Jacques Costeau e Louis Malle em 1956. Foi um dos primeiros documentários a incluir imagens subaquáticas coloridas e, além da Palma de Ouro do Festival de Cannes, conquistou um Oscar da academia de Hollywood.

[2] Andrea Mustain, “Mysteries of the Oceans Remain Vast and Deep” in LiveScience, 2011. Online edition accessed 12 April 2020.