Minas de Sal-gema de Loulé. Uma hipótese de habitar o vazio

Autoria: Marco Martins

Orientação: Daniel Nicolas Jiménez Ferrera

Universidade de Évora - Escola de Artes | Mestrado integrado em Arquitectura

Menção honrosa

Memória descritiva

Em Portugal existe um número considerável de minas que se encontram em exploração e outras tantas que, esgotada a sua capacidade extrativa, se encontram abandonadas e, consigo, extensas áreas de território comprometido sem qualquer utilização.

É urgente um olhar cuidado e consciente sobre estes territórios e sobre as possibilidades de integração dos mesmos nas áreas urbanizadas, concedendo-lhes novas utilizações.

A região do Algarve, palco de acontecimentos geológicos singulares ao longo das várias eras geológicas, contém um importante aglomerado de sal-gema que, devido à alteração dos movimentos tectónicos, nunca ascendeu à superfície. Esta matéria-prima pode ter diversas utilizações, como, por exemplo, em processos químicos e industriais, no desgelo das estradas, na confeção de alimentos e até para fins terapêuticos, entre outros. Este aglomerado de sal-gema encontra-se atualmente em exploração sob a cidade de Loulé, a única mina subterrânea existente em Portugal a explorar este minério.

Pretendeu-se, através de uma resposta teórico-prática, perceber de que modo é que este espaço industrial de extração de minério, menosprezado no traçado de evolução da cidade, pode ser adaptado a outros tipos de programa, integrando a vivência da cidade e introduzindo uma dinâmica renovada sobre a mesma.

À cota da superfície, a da cidade, definiram-se os limites da mina, criando simultaneamente um espaço verde e de lazer acessível a toda a população e visitantes. Atualmente, o poço principal da mina materializa-se à superfície numa torre de cerca de 8 metros que apenas serve questões técnicas de descida dos mineiros e circulação de ar do interior da mina. Com a intervenção proposta esta torre ganha destaque e passa — além de continuar a resolver, agora de forma mais eficaz, todas as questões técnicas de circulação de ar e do elevador de acesso — a assumir-se como um elemento de extrema importância, contendo o programa e no topo um miradouro para a cidade. Esta nova torre pretende criar uma analogia com o interior da mina tentando assemelhar-se à materialidade do sal-gema, recriando assim aquele que seria o processo natural do sal, o da emersão à superfície. Na cota inferior, o vazio e a materialidade das galerias escavadas constituem a própria essência de entendimento do espaço.