O ESTUÁRIO DO TEJO EM 2100

Autoria: Inês Gonçalves

Orientação: Filipa Viegas Serpa dos Santos

Universidade Técnica de Lisboa - Faculdade de Arquitectura

Finalista

Memória descritiva

As alterações climáticas emergem como uma das maiores ameaças a nível ambiental, económico e social. Cada vez mais, surgem como consequência da actividade humana, marcada pela forte poluição atmosférica e progressivo aumento da concentração de gases de efeito de estufa.
Este fenómeno reflecte-se no aumento global da temperatura e na consequente dilatação térmica da camada superficial dos oceanos, que se traduz numa subida do nível médio das águas. Os territórios possuidores de uma relação directa com o plano de água, são os mais afectados por esta problemática, caso não existam intervenções no sentido de os salvaguardar. Assim, com este trabalho, pretende-se contribuir para a constituição de um conjunto de soluções que respondam às questões que advêm dos cenários extremos de alterações climáticas, transformando as ameaças em oportunidades que possibilitem o bom desenvolvimento da ocupação humana no território. Neste caso em particular, o Barreiro, enquadrado no Estuário do Tejo, que enfrenta um cenário, de subida do nível do mar de 2 metros no horizonte de 2100, sustentado por investigações cientificas, nacionais e internacionais.
A análise de outras cidades, que já lidam com esta problemática, permite entender que estratégias podem e estão, actualmente, a ser aplicadas nas frentes de água. A referida investigação é fundamental no sentido de construir um quadro teórico que sustenta a estratégia proposta para a frente ribeirinha do Barreiro. Esta estratégia é elaborada após a simulação da subida do nível do mar e da percepção dos impactos que a mesma terá no território. Neste sentido a construção de cenários surge como uma ferramenta fundamental, tendo em conta diferentes níveis de subida do nivel do mar e o grau de incerteza que é inerente a este trabalho. Os impactos no território são estimados recorrendo aos “tipping-points” de 2.00m, 4.00m e 5.00m. Os 2.00m correspondem à subida do nível do mar, somando 2.00m (4.00m) em função da oscilação diária da maré, e, por último, mais 1.00m (5.00m) devido à possivel ocorrência de fenómenos como a ondulação.
Tendo consciência das ameaças a que o Barreiro se encontra susceptivel, as abordagens de recuo, defesa e ataque, surgem como ponto de partida para a construção de uma proposta flexível. Considerando a realidade do Barreiro, entende-se que a atitude mais coerente é a de recuar perante a subida do nível das águas, uma vez que, a mesma, possibilita a reinterpretação de um território que se encontra desqualificado e a enfraquecer em termos económicos, com a perca de atractividade e competitividade. É com base nas dinâmicas territoriais, introduzidas pela nova área intermareal, que se procura consolidar um conceito de intervenção, ligado à variação das marés e ao modo como o próprio fenómeno pode potenciar diferentes percepções e ambientes num determinado espaço.
Contudo, esta abordagem não constituiu, por si só, a única solução. As estratégias de defesa e ataque surgem como elementos fundamentais que complementam a atitude principal de recuar. Desta maneira, entende-se contribuir para uma adaptação mais adequada às especificidades de cada local da frente ribeirinha do Barreiro.
É fundamental realçar a importância da construção de um modelo de faseamento, em função do nível de subida das águas, pois deste modo, é possível estabelecer prioridades, dentro do conjunto de medidas propostas. Esta hierarquia foi constituída com base nos diferentes níveis de risco (alto, médio e baixo) que as várias áreas ribeirinhas apresentam. As soluções em contexto urbano, mais detalhadas, e a proposta do equipamento cultural, aliado a uma vertente de mobilidade, fortalecem toda a proposta, contribuindo para a criação de um percurso articulado que se inicia na macro-escala, ao nível do território, e finaliza na micro-escala, referente ao objecto arquitectónico e à sua materialização.

Por fim, o programa geral proposto procura responder a várias necessidades, integrando diferentes valências da vida quotidiana onde se pretende integrar a habitação, espaços de trabalho, zonas de recreio e aprendizagem.

A casa, entendida como lugar final que relaciona o homem com o mundo exterior, é pensada ao longo do trabalho como um lugar de apropriações espontâneas, dotada de alguma liberdade e dimensão. Com a premissa inicial de divisão em dois pisos, o espaço da casa distribui a zona pública/comum num primeiro piso e a área íntima, espaço de leitura/silêncio e de dormir num segundo piso.De geometria informal, procura adaptar-se ao preexistente, moldando-se e agarrando-se aos seus contornos.
Como lugar de extensão de uma dimensão íntima característica do cluster, o pátio, surge como espaço exterior que pretende qualificar e tornar intensa a relação entre as partes da casa, num contínuo interior/exterior que potencie relações familiares íntimas. Desenhando espaços tanto de convívio comum, como de introspecção individual, a casa hoje, deve permitir ao homem uma vida sem constrangimentos, flexível e adaptável às suas necessidades gerais.

Em suma, pretende-se criar um espaço de cidade consolidada, onde a qualidade de vida permita que o peão possa viver a rua, o largo, a praça e o rio como lugares que lhe pertence, tornando-o intimo da cidade.