PROJECTO URBANO SANTA APOLÓNIA – XABREGAS. Continuidades como processos regenerativos

Autoria: Eduardo Santos Oliveira

Orientação: Nuno José Ribeiro

Universidade de Lisboa Instituto Superior Técnico - Faculdade de Arquitectura

Menção honrosa

Memória descritiva

A cidade de Lisboa desde muito cedo se expandiu para poente, deixando selvagem toda a zona a nascente até à chegada da industrialização. Esta acabou também com o contacto directo com o rio Tejo, ao se aterrear toda a zona litoral para a construção do porto de Lisboa e ao se introduzir a linha férrea entre os dois. Lisboa nunca esteve tão longe do seu rio, mas esta proposta pretende reunir os dois através de três importantes objectivos.

O primeiro é o fim da estação de Santa Apolónia como terminal ferroviário. Com a criação da Gare de Oriente como o grande interface de transportes e como porta de chegada de Lisboa, parece contraproducente manter uma segunda estação com pouco uso e a servir os menos destinos. Também com a saída do porto a linha férrea passa a ter ainda menos relevância e com isto ganha-se o benefício de uma grande área de linhas férreas e seus equipamentos poder ser utilizada para outros fins. Muda-se o uso da estação mas acaba-se com os problemas de atravessamento causados pela intransponibilidade das linhas numa área tão antiga e consolidada da cidade. Em contrapartida, melhora-se a mobilidade ao continuar a linha azul de metropolitano, que hoje termina na estação de Santa Apolónia até à estação de Oriente, criando três nova estações intermédias e convertendo a do Braço de Prata. Consegue-se desta forma oferecer um rápido e prático meio de transporte ao resto da rede da cidade que estas zonas tanto carecem. Como transporte complementar pretende-se também unir a linha de eléctrico que hoje actualmente termina no Campo das Cebolas com a que está planeada para o Parque das Nações e Braço de Prata, de modo a estabelecer conexões mais locais.

O segundo objectivo é o de consolidar o limite urbano da frente ribeirinha de modo a criar uma continuidade entre os tecidos urbanos em ambas as margens dos vales de Santo António e Chelas. Espera-se que com esta marcação e união, ambas as margens do vale possam ser vividas com relações próximas acabando com o exílio da zona mais oriental. Com isto em mente foi estabelecido um novo limite urbanizado seguindo a mesma lógica de ocupação do território envolvente. Este novo limite não é indissociável do meio que o rodeia e é também ao mesmo tempo uma extensão dele mesmo. Em frente a este limite e do outro lado da avenida Infante Dom Henrique a ocupação passa a ser pontual e esporádica, tal como se encontra no resto da frente ribeirinha.

O último é a criação de um corredor verde pela zona ribeirinha, aproveitando como ponto de partida o parque previsto para o novo terminal de cruzeiros de Lisboa e para o Campo das Cebolas e prolongando-o até ao vale de Chelas. No vale de Santo António pretende-se consolidar a malha urbana envolvente e transformá-lo na nova centralidade. Para isso criam-se novas frentes que delimitam o vale e o encaram como o coração deste lugar, em vez de virarem as costas a ele. Neste núcleo permite que haja uma nova continuidade na estrutura ecológica até ao corredor verde da frente ribeirinha. Aqui um grande parque é criado permitindo ser uma presença mais frequente para quem atravessa este ponto importante na mobilidade e para os habitantes, tanto os novos como os existentes, na sua envolvente. Este parque aproveita as dificuldades associadas ao risco sísmico, risco de inundação e incidência solar na construção para se instalar e tirar partido dessas condições, descendo depois o vale até se encontrar com o corredor verde da frente ribeirinha.