RELAÇÕES DE ESCALA; ENTRE A CIDADE E A CASA

Autoria: João Varandas

Orientação: Nuno Mateus

Universidade Técnica de Lisboa - Faculdade de Arquitectura

Finalista

Memória descritiva

No contexto actual de um território descontínuo, heterogéneo e multi-polarizado, que poderá ser a área metropolitana de Lisboa, surge a necessidade de reinvestir no centro da cidade como resposta reaccionária ao crescimento suburbano que se tem verificado. Segundo esta premissa, surge a vontade de explorar um modelo de espaço de cidade que contrarie a tendência actual de isolamento e distância do espaço urbano por parte do Homem.

O espaço compreendido na zona de Belém monta o cenário preexistente que enquadra o local de projecto. Este, integra equipamentos e actividades de diferentes escalas que vão desde o lugar doméstico e amável de apropriação pedonal, até edifícios de importância nacional, como são o caso do Palácio da Presidência da República, ou de equipamentos culturais como o museu dos coches, a cordoaria nacional e o museu da electricidade. É também característica deste lugar a forte proximidade do rio, quebrada pela influência automóvel e ferroviária.

Deste modo, surge a necessidade de repensar Belém, até agora entendida como polo cultural de atracção turística, como parte da cidade que se pretende habitada, promovendo respostas a diversas necessidades quotidianas. É então proposto o desafio de repensar o espaço urbano do modo denso e compacto, como lugar propício a encontros e partilhas, promovendo lugares de estímulo à intimidade entre Homem e Cidade.

É na área compreendida entre o Museu dos Coches e a Cordoaria Nacional que se localiza o projecto, iniciando-se uma procura por desenhar uma frente de cidade consolidada, contínua e compacta, pensada a partir do espaço público como lugar para o peão, que relacione as diferentes escalas da envolvente próxima.

O programa toma como base a relação entre a vida do espaço público e as dinâmicas pedonais sugeridas pelo cluster, sendo assim desenhado o lugar de projecto a partir da atmosfera gerada pelas três preexistências.
Neste sentido, evitando criar uma definição programática exaustiva, o programa de espaço público deverá funcionar como atractivo para o interior do cluster. Desenhando espaços fléxiveis a diversas apropriações, apoiando a definição do espaço público como lugar de partilha e convívio comunitário e promovendo actividades de intensidade variável ao longo do dia.
Por fim, o programa geral proposto procura responder a várias necessidades, integrando diferentes valências da vida quotidiana onde se pretende integrar a habitação, espaços de trabalho, zonas de recreio e aprendizagem.

A casa, entendida como lugar final que relaciona o homem com o mundo exterior, é pensada ao longo do trabalho como um lugar de apropriações espontâneas, dotada de alguma liberdade e dimensão. Com a premissa inicial de divisão em dois pisos, o espaço da casa distribui a zona pública/comum num primeiro piso e a área íntima, espaço de leitura/silêncio e de dormir num segundo piso.De geometria informal, procura adaptar-se ao preexistente, moldando-se e agarrando-se aos seus contornos.
Como lugar de extensão de uma dimensão íntima característica do cluster, o pátio, surge como espaço exterior que pretende qualificar e tornar intensa a relação entre as partes da casa, num contínuo interior/exterior que potencie relações familiares íntimas. Desenhando espaços tanto de convívio comum, como de introspecção individual, a casa hoje, deve permitir ao homem uma vida sem constrangimentos, flexível e adaptável às suas necessidades gerais.

Em suma, pretende-se criar um espaço de cidade consolidada, onde a qualidade de vida permita que o peão possa viver a rua, o largo, a praça e o rio como lugares que lhe pertence, tornando-o intimo da cidade.