REVITALIZAR A CIDADE OCULTA. Projecto para quatro casas no interior de um quarteirão nas Amoreiras

Autoria: Mariana Serra Brandão

Orientação: José Luís Saldanha

ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa Escola de Tecnologias e Arquitectura

Vencedor

Memória descritiva

Para o projeto de quatro habitações prevê-se que a realidade social daqui a 20 anos seja uma continuidade da realidade atual, com uma forte presença de seniores monoresidenciais. Tendo como pressuposto esta previsão estatística, concebeu-se um projeto que reinterpreta um modo de habitar complementar a esta tendência social. Destinadas à sociedade idealizada, apoia-se e valoriza-se o historicismo, a habitação de escala reduzida, o espaço comunitário e as pequenas “aldeias” dentro da cidade. Propõe-se a reutilização desses espaços esquecidos, onde os anéis de fachada, que as vias principais criam, desenham interiores de quarteirão abandonados sem qualquer relação com o exterior. São lugares que podem trazer uma nova qualidade de vida à cidade, espaços com vivências e características únicas que são assim aproveitadas e valorizadas neste projeto. O objetivo é virar a grande metrópole do avesso, mostrar as suas costuras, e cozer esses espaços onde a coletividade urbana como operação cirúrgica na morfologia da urbe é potenciada.
Um interior de quarteirão localizado nas Amoreiras foi o local de intervenção escolhido. Com acesso pela Travessa do Barbosa, podemos observar a existência de um antigo pátio operário nas traseiras de dois edifícios com frente para a via pública, que se encontra hoje totalmente descaracterizado. Ambos os edifícios da frente e as supostas edificações do pátio foram idealizados ao mesmo tempo, no entanto apenas os dois edíficos principais foram construídos conforme o projeto. Por isso, a primeira opção foi resgatar o desenho original do pátio, por assumir uma forma que se adapta melhor à morfologia do lote. Neste sentido foram projetados dois blocos, com dois fogos cada, que surgem ligados entre si por uma cobertura contínua, desenhando um volume único revestido por uma pele metálica, ondulada, de cor preta, de modo a passar despercebido aos olhares de pessoas externas.
Habitar em comunidade é o principal conceito desde projeto, onde o espaço coletivo é um espaço central de encontro e partilha. Dentro deste panorama funcionam projetos em que cada pessoa tem o seu espaço privado e ainda os espaços comuns para comer, estar e trabalhar. Estes espaços encontram-se estratégicamente distribuídos ao nível do rés-do-chão dos dois edifícios pré-existentes. O espaço é apropriado de modo a receber as novas funções de carácter comunitário como também público, facilitado pelo acesso direto à via pública.
Relativamente às habitações, existem neste projeto duas abordagens totalmente distintas, que podemos facilmente distinguir pelo tipo de intervenção odotada em cada uma: reabilitar e construir de novo. As habitações de tipologia multifamiliar no 1º e 2º piso dos edifícios da frente, encontram-se atualmente com uma ocupação de 50% e num estado degradante. Devido ao facto de se tratar de uma construção do estilo pombalino, optou-se por valorizar a história do edifício. Foram feitas intervenções cirúrgicas de modo a reabilitar os espaços, mantendo a configuração espacial original, mas adaptando-os às novas exigências habitacionais. Foi também preservada a presença dos elementos arquitetónicos típicos destas construções.
O novo volume, pelo contrário, é uma construção leve com esqueleto de madeira elevado do terreno. As novas habitações, de tipologia contemporânea, foram projetadas para uma única pessoa, sendo predominantes os espaços abertos e a quase ausência de compartimentos. De modo a maximizar a sensação de espaço e criar uma organização eficiente, é introduzido um único volume localizado no centro da habitação onde todos os serviços acomodam-se à sua volta, dividindo o espaço em diferentes usos. O acesso a todas as divisões é feito por um corredor único que além de distribuir os espaços, também proporciona uma maior privacidade ao piso superior. A iluminação é garantida através de aberturas zenitais e de vãos generosamente abertos para o jardim.